quinta-feira, outubro 12, 2006

Dália Negra


A obra do James Ellroy foi o tema da minha tese de mestrado. Brian DePalma é (será?) o cineasta de que mais gosto (minha videoteca que o diga!). Conclusão: Dália Negra seria um grande favorito ao posto de meu filme favorito favoritíssimo de todos os tempos. Eu mesmo pensei isso, e, confesso, esperei por isso. Até ver o filme. Decepção talvez seja muito forte para descrever minha reação, mas não fica longe disso. O filme é muito bem feito, técnica e esteticamente impecável, mas acho que faltou alguma coisa. O livro tem um clima pesado e obsessivo, que não passou para o filme. No livro, o sentimento de decadência da Los Angeles pós-guerra, em contraponto ao boom de desenvolvimento alardeado na época, permeia toda a trama e, de certa forma o assassinato de Elizabeth Short e o desmantelamento parcial do gigantesco sinal HOLYWOODLAND (evento que não é nem citado no filme) são marcos de um momento na história em que as coisas passaram a correr ladeira abaixo. O filme nem toca no assunto.
Adaptar Ellroy para o cinema é um trabalho ingrato. Tudo que ele escreve tem 500 personagens, dezenas de tramas e subtramas correndo em paralelo, e uma verborragia incontrolável. Peneirar a essência é muito difícil, principalmente quando esta verborragia tem um impacto fundamental no leitor. É verdade que muitos dos diálogos foram transpostos ipsis literis, mas outros foram fortemente simplificados. Outra coisa que me incomodou foi a alteração de alguns eventos da trama. Na adaptação, muitas vezes é necessários condensar vários acontecimentos em uma só cena, ou fazer um personagem executar as ações de vários outros, para acelerar a trama. Mas criar um novo ambiente, uma nova situação em momento completamente diverso para um evento-chave na trama é injustificável. Chegar a uma solução como que por mágica, também não me agrada. Diz a lenda que o corte original do filme tinha mais de três horas. Quem sabe no DVD...
Dália Negra é um bom filme, mas não é um grande filme, e, possivelmente, não vai agradar os admiradores de James Ellroy. Como li por aí, talvez David Fincher não devesse ter abandonado o projeto...

Um comentário:

drews disse...

Depois de reler Dália pensei em outra coisa que foi tratada com muita superficialidade no filme: a corrupção na polícia. Este é um tema muito forte no "LA Quartet", e não foi bem colocado: vários eventos do livro que mostram os jeitinhos que a polícia e a promotoria arrumam para tentar resolver o caso de forma a atender seus interesses pessoais e corporativos. James Ellroy sem isso não é bem James Ellroy. Pra quem não tiver tempo ou paciência pra ler, assistam "A face oculta da lei" ou "LA Cidade proibida". Tá tudo lá!